A decisão de adotar nomes japoneses por brasileiros que vivem no Japão tem se tornado uma estratégia comum para evitar discriminação e facilitar a integração social. Antonio Kotaro Hayata, um advogado brasileiro de 53 anos, é um exemplo desse fenômeno. Há três anos, ele se naturalizou japonês e decidiu modificar seu nome, retirando o “Antonio” para reduzir o estigma de ser estrangeiro.
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Estratégia para evitar discriminação
Essa prática não é exclusiva de Hayata. Muitos brasileiros, assim como outros estrangeiros, optam por adotar nomes japoneses ao se naturalizarem. Segundo a Agência de Serviços de Imigração do Japão, em dezembro de 2023, o número de estrangeiros no país atingiu um recorde de 3,41 milhões, representando 2,7% da população total. O número de naturalizações também cresceu, com 8.800 pessoas adquirindo a cidadania japonesa em 2023, um aumento em relação aos 7.059 do ano anterior. Entre 2021 e 2023, os brasileiros foram o quarto grupo mais numeroso a se naturalizar, após coreanos, chineses e vietnamitas.
Mudar o nome é uma tentativa de escapar do preconceito, especialmente ao buscar emprego e moradia, como explica Angelo Ishi, professor da Universidade Musashi. Ele destaca que a discriminação baseada em nomes é uma realidade comprovada, mais acentuada para coreanos. Um incidente recente envolvendo um japonês com um nome estrangeiro que teve seu currículo rejeitado por uma rede de fast food ilustra essa questão. A repercussão negativa nas redes sociais levou a empresa a pedir desculpas.
No Japão, a Lei de Normas Trabalhistas proíbe discriminação por nacionalidade, religião ou status social, mas a falta de punição efetiva torna a regra mais orientativa. Situações como a da universitária de 20 anos, filha de pai nigeriano e mãe japonesa, que foi rejeitada por uma empresa de consultoria devido ao seu nome, destacam a persistência do preconceito.
Impacto nas crianças e na identidade
Lilian Terumi Hatano, professora aposentada da Universidade Kindai, enfatiza que a discriminação baseada no nome afeta a formação da identidade das crianças com raízes estrangeiras. Ela argumenta que a sociedade japonesa ainda precisa avançar na aceitação de outras culturas.
No Japão, cerca de 2% dos bebês nascidos têm pelo menos um dos pais estrangeiro. Casais como Eline e Cleiton Haguiwara optam por nomes japoneses para seus filhos na tentativa de evitar discriminação escolar. Contudo, essa mudança nem sempre impede questionamentos e preconceitos, conforme relata Eline.
Fonte: Época Negócios