Foi-se o tempo em que viver no campo era sinônimo de segurança e tranquilidade. Este era o lado positivo da moeda. O negativo era a distância e a dificuldade de acesso às “tecnologias” como luz e telefone. Hoje, a modernidade chegou a quase todas as propriedades. E junto, a violência antes sabida apenas pelas histórias contadas pelo pessoal da cidade. Em minhas andanças pelas propriedades rurais, me surpreendo ao ver casas cercadas, janelas gradeadas e cerca elétrica. Antigamente, os cercados eram feitos para manter os animais em espaços restritos, as janelas recebiam telas para proteção dos insetos e a cerca elétrica era usada nos piquetes para rodízio do gado no sistema de pastoreio voisin. Agora, o cenário é outro. A motivação é a mesma das cidades: evitar assaltos, roubos, violência contra moradores. O que querem os ladrões? Armas, dinheiro, agroquímicos, máquinas e animais. O roubo de animais é chamado de abigeato. Muitas vezes, estacionam caminhões na estrada de chão batido, à beira da cerca, que é cortada para embarque dos bovinos e ovinos. Outras vezes, os exemplares, vários de alta genética, são abatidos ali mesmo, sem nenhuma higiene. Há casos de animais que foram medicados e precisam de um tempo de carência para serem consumidos. Mas, nada disso importa. A carne segue “in natura”, jogada em porta-malas sujos, transformados em câmara fria – ou melhor: quente. E são vendidos nas cidades, para consumidores que levam em conta apenas o valor e não a qualidade do produto. É a chamada ação em cadeia. Começa com os abigeatários que roubam e abatem os animais, passa pelos intermediários, que vendem a carne, e chega à mesa dos consumidores. Dados da Secretaria da Segurança Pública apontam 8.232 casos de abigeato desde 2013, sendo 1.431 nos primeiros três meses deste ano. Santana do Livramento lidera o ranking, seguido de Bagé e Santa Maria.
As autoridades dizem que a distância entre as propriedades e a localização são dificultadores no combate ao crime. Também há falta de policiais para fazer patrulhamento rural. Nos assaltos às propriedades, os métodos são iguais aos usados nas cidades. Os bandidos chegam de surpresa e atacam quando as pessoas entram nas casas ou galpões ou ficam de tocaia esperando o melhor momento. Fazem reféns, torturam, ferem. Há casos de famílias atacadas em grupo, pessoas refugiadas no meio do mato ou arvoredo para fugir da violência. O Agroband deste sábado, às 9h na Band AM, e 9h30 na Band TV, vai debater este tema dentro da campanha #ChegadeViolência. Na cidade e no campo.
Lizemara Prates é jornalista do Grupo Bandeirantes de Comunicação. Apresenta o AgroBand, na TV Band, e tem comentários diários sobre agronegócio na Rádio Bandeirantes e na BandNews FM. Escreve no Metro Jornal de Porto Alegre