Na prática, a CCJ permitiu o debate a respeito do tema. Agora, a questão é: por que não aceitar esse convite e discutir uma legislação criada décadas atrás, quando o mundo, era outro? Mesmo as pessoas contrárias à redução da maioridade devem concordar com a necessidade de se fazer algo sobre o cenário de violência vivido pelo país. E desse cenário, infelizmente, fazem parte os menores envolvidos no crime, seja por iniciativa própria, seja por manipulação de bandidos “de maior”. Se é preciso fazer algo, porque não se discutir o que deve ser feito?
A questão talvez seja essa: o país se desacostumou a debater temas de forma desapaixonada. É como se a predominância de uma ideia sobre outra comprovasse algum tipo de superioridade intelectual. Uma infantilidade débil e estéril.
A maioridade penal está estabelecida em critérios objetivos discutíveis. Um exemplo: um rapaz de 17 anos assaltou um advogado na terça-feira à noite na Grande Vitória. Foi preso após a meia-noite, portanto, na quarta-feira, quando fazia aniversário e chegava aos 18 anos. Ele foi solto. Não poderia, óbvio, responder como um adulto por um crime cometido como menor, apesar de a diferença entre uma situação e outra fosse de apenas algumas horas. O limite rígido de idade, assim como a punição conforme a gravidade dos crimes cometidos, deveriam ser rediscutidos. Rediscutidos não signifca redefinidos. Ou a sociedade se dispõe a revisitar o assunto de forma aberta ou estaremos condenados à eterna prisão de quem se apaixona por suas ideias a ponto de não abrir mão delas de forma alguma. Como se sabe, algumas paixões não têm grandeza. Ao contrário: imbecilizam o homem.
Antonio Carlos Leite é jornalista há 26 anos. É diretor de Redação do Metro, diretor de Jornalismo da Sá Comunicação e escreve às sextas-feiras neste espaço.