Até recentemente restrita ao mundo das agências de modelos, a expressão “book rosa” se popularizou com a narrativa da novela “Verdades Secretas”. O termo é utilizado para descrever uma prática de algumas dessas profissionais, que avançariam suas noites de trabalho oficial com atividades mais particulares e íntimas. Conforme se conta, elas aceitariam estender sua função para além-passarela, onde se entregariam aos que “alugam” seu tempo e corpo. A função de uma modelo é dar fluência a uma coleção da moda, representando a figura feminina desfrutando daquele conceito de roupa, sapato etc. Ela também protagoniza ensaios fotográficos ou de vídeo para campanhas em revistas, jornais, TV. Enfim, emprestar sua expressão, seus traços e seu charme para divulgar algum produto ou conceito. A decisão de usar o corpo para ganhar dinheiro de modo mais heterodoxo, quer vendendo sangue, quer vendendo sexo, é problema exclusivamente de cada um, no máximo de seus familiares, namorado, cônjuge. O mesmo se aplica aos modelos masculinos, bom que se registre. Já um presidente da República, o que faz? Sem recorrer à Constituição Federal e tratando a questão de forma bem singela, cabe-lhe a representação maior e mais importante do país, a defesa intransigente dos interesses nacionais, atentando à liturgia do cargo, seus requisitos, formalidades, molduras e, principalmente, para o fato de que ainda que esteja ele, ou ela, no chuveiro tomando banho, ali está o país a banhar-se, a pentear-se, barbear-se, enfim, como a bandeira nacional, o brasão, o hino, é o Brasil inteiro representado em uma só pessoa. Tomemos um exemplo mais frequente: se o presidente dos Estados Unidos de repente resolver sair sexta à noite em Washington para tomar um qualquer no boteco, o chefe de sua segurança vai dizer-lhe “na-na-nina-não”: ele “está” presidente, e o seu cargo é mais importante do que o homem que o ocupa. E ponto final. No momento em que a imprensa divulga que o atual ex-presidente, enquanto chefe de Estado, borboletava pelo mundo cafetinando, no tempo que excedia suas atividades políticas, empresas e pessoas em negócios escusos a troco de oblíquos cachês para suas improváveis palestras e conselhos culturais, conclui-se que a única diferença do mesmo para as moçoilas que engordam o orçamento transformando a verticalidade das passarelas na horizontalidade do expediente extra estaria, além do valor do cachê, no fato de que essas no máximo poderiam contribuir para o aumento da fama do estabelecimento, enquanto ele transformava o país numa casa de tolerância. Os holofotes das passarelas teriam se transformado numa luz vermelha na porta do Palácio do Planalto.
Gustavo Varella Cabral é advogado, professor, especializado em Direito Empresarial e mestre em Direito Constitucional.