Colunistas

Nossos clubes desconhecem filosofia de futebol!

O futebol brasileiro anda cambaleante também por que não há mais filosofia de futebol nos clubes. Vigora a política do treinadorismo. Dirigentes, quase sempre amadores, entregam todo comando a profissionais limitados, ultrapassados e que ganham fortunas com o comando de tudo. Chegam com o currículo minúsculo, empregam quatro ou cinco assessores, mudam tudo que o antecessor havia começado e meses depois já estão com a cabeça à prêmio. Nem Inter nem Grêmio têm filosofia dentro de seus respectivos departamentos de futebol. E, ao que observo, nenhum clube brasileiro tem.

E antes que alguém diga que o Grêmio tem política já antecipo que não tem. O que o Grêmio tem, é uma política salarial de futebol. E parece que bem definida. Mas não identifico uma filosofia de futebol num clube que terceiriza todo departamento para Luiz Felipe Scolari e meses depois aposta no emergente Roger, ficha três nas tentativas de reposição. Felipão foi apresentado como pilar de gestão no futebol da era Bolzan. Seu nome constava como trunfo no plano de gestão. Inviabilizou-se no clube e foi trocado por um novato que, aliás, está alcançando resultados bem mais promissores.

A situação do Inter é mais preocupante. Queria Tite, descartou nomes do exterior, acabou com Diego Aguirre, ficha quatro ou cinco. E entregou ao uruguaio tudo que cerca o futebol. E não percebeu que o modelo de preparação física estava equivocado. Ao demitir o treinador três dias antes do maior fiasco da história vermelha, cogitou o mais badalado técnico da América do Sul, Jorge Sampaoli. Contentou-se com Argel. O que há de comum neles? São ex-jogadores. E só.

Publicidad

Filosofia de futebol é algo muito mais complexo e profundo do que simplesmente ter coerência e manter um técnico no cargo. Este é apenas o primeiro passo. Passa por um conceito em contratações e formatação das categorias de base. Busca-se um perfil de time ideal e então é escolhido o caminho para se chegar a este objetivo. Investimento na base? Investimento em reforços? Jogadores com qual perfil de experiência, idade, biótipo, característica de jogo, etc…

O vencedor Inter dos anos 1970 foi consequência de uma filosofia implantada pelo grupo dos Mandarins. Os jogadores eram, na grande maioria, altos, fortes e foi concebido um time aplicado em campo. O Inter de 2006 tinha um requisito em suas contratações: acumular atletas com inteligência acima da média e muitos com capacidade de liderança. Fernandão, Iarley, Clemer, Alex, Jorge Wagner, Tinga, Fabiano Eller. O Grêmio dos anos 1990 foi montado em duplas de jogadores que tinham afinidade e se encaixavam taticamente: Arce e Rivarola pela direita; Roger e Adilson pela esquerda, Dinho e Goiano na marcação, Arilson, depois Emerson, e Carlos Miguel na criação, e, para concluir, Paulo Nunes e Magno, que não funcionou e perdeu espaço para Jardel. Um time de líderes evidentes. Adilson, Dinho e Goiano. Ou seja, um competitivo e vencedor time de futebol é montado com coerência, convicção, planejamento e inteligência. Há de se ter uma filosofia, um conceito a ser aplicado. A tese do “vamo que vamo” costuma esbarrar num adversário um pouquinho mais organizado.

Jornalista esportivo desde 1986, Leonardo Meneghetti foi repórter de rádio, TV e jornal e está no Grupo Bandeirantes desde 1994. Foi coordenador de esportes, diretor de jornalismo, e, desde 2005, é o diretor-geral da Band-RS. Diariamente comanda “Os Donos da Bola”, na Band TV.

Siga-nos no:Google News

Conteúdo patrocinado

Últimas Notícias