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Quando o erro vale tanto quanto o pó…

Qualquer pessoa sabe da única utilidade de se cometer um erro: aprender com ele. Aliás, a frase está errada. Ou incompleta: qualquer pessoa humilde sabe da única utilidade dos erros. Mas humildade, tão comum em pessoas comuns, não rima com autossuficiência, tão abundante em quem se considera especial, acima do nível dos pobres mortais. Nessa categoria de pessoas certamente se encontram alguns altos executivos de grandes conglomerados industriais e econômicos e seus assessores, sempre muito dispostos a assumir para si os equívocos de seus chefes.

Causadora do maior desastre ambiental da história do país, a Samarco deu lições várias de como não agir em um caso formado por um misto de dor, espanto e tristeza. Comunicava-se com a imprensa por meio de notas lacônicas, frias, por vezes confusas. Agiu como se não devesse satisfação a ninguém. E deve. Atuou como se sua importância para a vida econômica e social de uma comunidade ou de um Estado lhe isentasse de dar explicações, respostas, tomar atitudes efetivas para reduzir os enormes problemas por ela causados. Não entendeu que nenhuma empresa tem passe livre para menosprezar a sociedade e a opinião pública. Não pediu desculpas. Só fez isso muitos dias depois, de forma um tanto forçada. De onde se esperava o lamento espontâneo surgiu uma frase feita e burocrática.

A Samarco, enfim, tratou com pequenez um caso de enorme grandiosidade dramática e humana. Parece ter feito escola. A reação inicial de Vale e ArcelorMittal diante da interdição das operações do Complexo de Tubarão segue a cartilha dos manuais de crise. Notas vazias. Respostas ocas. “Não tomamos conhecimento”, “Não fomos afetados”, “Uma surpresa”… Como se fosse realmente surpreendente a reação de órgãos de defesa da sociedade contra os tormentos que afetam essa mesma socieade. Há anos os moradores da Grande Vitória se queixam do pó preto que polui os ares, suja suas casas, entra por suas narinas. As empresas invadem espaços para os quais nunca foram convidadas. E nunca se sentiram incomodadas quando os donos desses espaços se queixaram, reclamaram, ocuparam espaço nos jornais com suas mãos encardidas… Ao contrário: tratou um tormento diário com a embromação típica das decisões  tomadas em gabinetes refrigerados por executivos que se consideram muito espertos.

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O que esses executivos não conseguiram perceber, do alto de sua esperteza, foi a nova postura adotada pela sociedade. As ruas foram tomadas recentemente não apenas por questões políticas, mas porque há uma enorme necessidade dos cidadãos de se fazerem ouvir. Eles sabem estar diante de duas indústrias poderosas. Ricas. Sabem também que, se houvesse uma determinação efetiva dessas empresas, os investimentos para preservação do meio ambiente seriam bem maiores; as soluções, mais rápidas. Sabem, enfim, que merecem ser tratados com maior respeito e dignidade.

Vale e Arcelor devem ter preparado um exército de advogados para derrubar a decisão judicial. Se isso acontecer, muito provavelmente haverá comemoração entre os executivos, por terem vencido mais uma batalha, preservando o lucro da empresa, mesmo à custa dos enormes incômodos criados para a sociedade. É um erro? Provavelmente, sim. Mas esse tipo de gente não nota seus próprios erros. Nem aprende com eles…

Antonio Carlos Leite é jornalista há 28 anos. É diretor de Redação  do Metro, diretor de Jornalismo da Sá Comunicação e escreve às sextas-feiras neste espaço.

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