Tendo em vista um Estado que tem como incumbência cuidar, em um grau considerável, do bem estar da população – e isso se aplica, obviamente, ao menos na teoria, a priori, enquanto definição, ao sistema político brasileiro –, é interessante pensar no esporte, em termos sociais, gerais, como um mecanismo, uma arma para a felicidade. Isso mesmo. Há muito a ciência já comprovou que a liberação de endorfina gera prazer, contentamento. Em médio e longo prazo, a prática de exercícios é um dos principais aliados que se pode ter contra a depressão. Logo, em termos biológicos, fisiológicos – além do ganho na prevenção de doenças da população –, a disseminação do acesso ao esporte, o incentivo ao hábito de se exercitar – que poderia se dar por meio das mais diversas campanhas e ações práticas –, contribuiria, diretamente, para deixar o povo mais feliz. É inegável: quem experimenta uma atividade aeróbica – não somente – qualquer, e se propõe a uma autoanálise, percebe que houve sim, após a prática do esporte, um ganho em termos de bem estar.
Num sentido mais filosófico e menos escancarado, o hábito de se exercitar contribui para a felicidade de outras maneiras. Schopenhauer e outros pensadores preconizavam que o tédio é, essencialmente, um dos principais fantasmas da humanidade. A distração de estar em movimento, em um jogo, em um desafio, em si, convenhamos, costuma ser um ótimo antídoto contra o famigerado aborrecimento. Fora que, o simples ato de reunir-se com amigos, preferencialmente ao ar livre, além de ocupar o tempo de maneira saudável, muda o astral, é terapia frequentemente sem igual.
Levando-se em conta que a entrega ao trabalho intelectual e à fruição artística – outro mecanismo para aliviar e sair do tédio, para elevar-se ante as angustias do âmago – é rara para a maioria, a opção pelo esporte como parceiro nessa luta pelo espalhamento da felicidade, do bem estar, da saúde corpórea e mental, se torna ainda mais importante. Óbvio: uma coisa não anula a outra e o Ministério da Educação está aí para trabalhar. Mas que, conhecendo a espécie humana, conclui-se que fica mais fácil tirar um indivíduo da inércia corporal do que da intelectual, quanto a isso, não há a menor dúvida. Até porque, entre outros motivos, a segunda depende mais de tendências próprias, de certos predicados não tão comuns assim.
Cadu Doné é comentarista esportivo da rádio Itatiaia e da TV Band Minas, filósofo e escritor