Na semana passada, o Brasil se despediu do Haiti, país arrasado pela guerra civil e por um terremoto. Foram 13 anos de controle militar verde e amarelo liderando os capacetes azuis da ONU. Os números divulgados são confusos, mas estima-se que a “missão de paz” tenha custado, por baixo, R$ 2 bilhões aos contribuintes brasileiros, com a ida de 37 mil homens, entre soldados e oficiais.
Também na semana passada morreu baleada a 16ª pessoa vítima de latrocínio em Porto Alegre. Este é o nome técnico dado para um assalto em que a vítima acaba sendo executada. O mais recente a tombar era um motorista do Uber de 35 anos. Ele tentou fugir dos criminosos e levou um tiro no pescoço. Do início do ano para cá já tivemos taxista, funcionário de lotérica, auxiliar de serviços gerais, comerciante, doutorando em física, morador de rua, coronel do Exército e garçom assassinados. Esses são os que lembro. Lamento, mas a julgar pelos 40 latrocínios do ano passado na capital, ainda contaremos muitas histórias de famílias de pessoas honestas, honradas e trabalhadoras da nossa cidade que acabarão destroçadas pela marginalidade descontrolada. É o que nos indicam as estatísticas.
Mas por que comecei falando do Haiti e acabei contando sobre os assaltos seguidos de morte em Porto Alegre? Porque existe uma óbvia relação entre o Brasil e o Haiti: o descontrole institucional que gera a violência. Com 60 mil homicídios por ano, nosso país lidera qualquer ranking mundial em números absolutos. Aqui se mata mais que na guerra da Síria. Então, o que falta para entendermos que estamos diante de uma situação em que o aparato policial regular e as regras legais que temos não serão suficientes para debelar a barbárie? Estamos vivendo em um ambiente conflagrado pela violência, em um campo de guerra. O curioso é que apesar de tudo o Haiti ainda é muito mais seguro que o Brasil, mesmo tendo o país uma miserabilidade grosseiramente perceptível. Lá a taxa de homicídios é de 9,6 por 100 mil habitantes contra os 28,9 por 100 mil do Brasil. Precisa dizer mais?
Agora que está saindo do Haiti, o Brasil já pensa em participar de outra “missão de paz”, segundo as autoridades. Parece piada. Os brasileiros morrendo como moscas e aqui nada se faz. Acordem! A missão da vida de todos é aqui e agora.