Sempre tive forte impressão de que, no coração de Tite, a formação ideal da seleção brasileira para a Copa teria Renato Augusto e Paulinho à frente do primeiro volante, Casemiro; de que, no fundo, ele acabou se deixando levar, em boa medida, pela vontade de agradar/projetar boa imagem: as grifes de Philippe Coutinho e Willian, o medo do rótulo de “retranqueiro”, ou algo minimamente análogo… Claro que a queda do seu ex-pupilo no Corinthians – nos últimos jogos da preparação para o mundial nos quais começou como titular – teve um papel na composição do quadro; ainda assim… O ponto central aqui é: nos debates públicos costuma passar despercebido que técnicos frequentemente tomam decisões não por convicções, manias idiossincráticas, e sim pela ânsia pelo elogio, uma espécie de instinto de preservação não necessariamente acoplado à preocupação com a perda do cargo, em si. É o mesmo que ocorre com jornalistas que trabalham em jogos vasculhando as reações nas redes sociais – e não olhando para o campo.
Paulinho é ótimo jogador. Mas talvez, num cômputo geral, poderíamos dizer que tem um “teto”. Seleções de primeiríssima linha, como a nossa; clubes do patamar de um Barça, quem sabe, sejam muito para ele. Não possui a qualidade, o talento suficiente para, neste nível de excelência, ser adiantado de vez e se transformar pra valer, sem medo de ser feliz, num atacante, num homem de ligação cristalinamente avançado. Como volante marca pouco para responsabilizar-se pela contenção, e não funciona como um organizador que rege o time recuado. Por fim – e talvez aqui resida o principal obstáculo para que ele caiba de verdade entre os titulares de um escrete como o canarinho –, devemos acrescentar que suas dificuldades combativas de alguma maneira muitas vezes obrigam o técnico a escalar alguém – como Renato Augusto – para preencher as lacunas que ele deixa. Logo, você acaba “gastando” mais uma posição do meio por alguém que, convenhamos, dificilmente vai desfilar com a destreza, o brilho satisfatório para fazer valer a pena este esforço.
Um tipo de pensador, de meio-campista tem se solidificado nos últimos anos no futebol mundial. O Brasil vinha tendo dificuldades para produzir atletas desta estirpe com tamanho suficiente para a seleção. No 4-1-4-1 que Tite queria implantar, taticamente, este estilo de peça fazia falta. Paquetá, Arthur e Fred são perspectivas interessantes nesta seara. Com dois deles centralizados à frente de um primeiro volante, o treinador da CBF pode fugir do seu dilema e acabar, por determinado prisma, salvo pelas circunstâncias: teria talento, solidez, e não seria martelado pela imprensa por “excesso de pragmatismo”; não padeceria no dilema “time com boas chances de sofrer pela carência criativa, e provavelmente mais afeito comparativamente à própria preferência” x “equipe mais talentosa – e, de quebra, mais ‘popular’ –, mas portadora de razoável risco de mostrar-se desguarnecida demais”.