Sozinho, sem mais o restante do quinteto One Direction, aquela que foi a maior boy band da primeira metade da atual década, reunida durante a participação dos guris no reality show musical «The X Factor», Harry Styles recebeu a pancada sozinho. A pressão de ser um novo artista, distante do grupo com o qual rodou o mundo (e passou pelo Brasil em 2014) não tinha como ser menor. É o mundo pop, do consumo rápido – e, por vezes, faminto até demais. Em 2017, dois anos depois do 1D (sigla como a banda era conhecida) anunciar um hiato, Styles, um dos mais carismáticos dos cinco, colocava seu rosto e cabelo propositalmente bagunçado e comprido para jogo. Veio Harry Styles, o disco, um petardo pop crescido, que atira para lados distintos.
Coloca, lado a lado, o rock setentista, as canções grandiosas feitas para as arenas; e outras bem radiofônicas, prontinhas para embalar corações feridos nas madrugadas frias de outono. Aos 23 anos (hoje, ele está com 24), o rapaz entregou mais de si do que o esperado – principalmente para um guri cuja adolescência, seus amores e desamores, foi praticamente televisionada e registrada por cliques dos mais inconvenientes paparazzi nos últimos oito anos. Sozinho, Harry Styles abriu seu peito. Convidou-nos a entrar e entender, melhor, o que há por ali.
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É esse o artista que está de volta ao país. Depois da apresentação no Rio de Janeiro, na Jeunesse Arena, neste último domingo, 27, ele toca em São Paulo nesta terça, 29, no Espaço das Américas, às 21h (a abertura é do ótimo Leon Bridges, às 20h). Os ingressos para os dois shows estão esgotados há meses.
Dentre as 17 músicas exibidas naquela noite estavam as dez do álbum de estreia. Do One Direction, optou por If I Could Fly, Stockholm Syndrome e What Makes You Beautiful. Ainda emendou, dentre as covers, canções da artista pop Ariana Grande (Just a Little Bit of Your Heart ) e da bandona Fleetwood Mac (The Chain).
É claro, o rapaz não esteve sozinho enquanto produzia seu debute solo – seria ingenuidade entender o universo da música mainstream dessa forma até. Toda a dezena de músicas do álbum, gravado na Califórnia, Inglaterra e Jamaica, todas têm colaborações. Carolina, a terceira do álbum, possui o maior número de autores, sete (Styles está entre eles); já Sweet Creature, um dos singles do trabalho, é assinada pelo jovem e por Tom Hull (inglês que já colaborou com gente como Florence Welch, do Florence + The Machine). De qualquer forma, o holofote, agora, está somente sobre o garoto.
A mudança, portanto, é de postura. Como único homem de uma barreira em uma cobrança de falta que leva perigo real ao gol durante uma partida de futebol, era ele ou ele. São os tais «disparos» que ele canta em Sign of the Times, a melhor canção deste disco de estreia.
Constrói a narrativa da música ao piano, de início, segue para a base de guitarras e falsete, por fim, liberta-se com coros em um refrão bom para arenas. Nela, Styles canta sobre os novos tempos Diz que cansou de ser afetado pelos problemas que lhe afogavam – entre eles, o abandono do pai, quando criança. Convoca, cada um de nós, para deixar o buraco no qual, por vezes, nos enfiamos sozinhos. Sign of the Times é melancólica e esperançosa, na mesma medida. Bastante real, como um tapa, ele escancara as amarras, por vezes espinhosas. São novos tempos, mesmo.