Não precisa ir longe para confirmar que o audiovisual brasileiro vive um momento de crescimento. Só ir ao shopping mais próximo. Certamente algum filme nacional estará em cartaz. O mais recente sucesso, “Minha Mãe É uma Peça 2” já levou mais de 4 milhões, aos cinemas, segundo a Ancine, agência que regula o setor. O sucesso nas telonas é só uma ponta da boa fase.
O setor cresceu e se diversificou. E as oportunidades de trabalho, que eram restritas ao cinema e televisão aberta, hoje aparecem nos canais pagos, internet e nas redes sociais.
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E a expansão se reflete também no aumento da oferta de cursos superiores de audiovisual. Bacharelados e cursos tecnológicos tiveram um crescimento de 300% na última década, segundo o Forcine (Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual).
Um cenário bem diferente de pouco tempo atrás, quando havia um preconceito e uma crença de que cinema se aprendia no set de filmagem, afirma Luciana Rodrigues, professora da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) e representante do Forcine. “Isso vem mudando porque o próprio setor vem percebendo a importância das escolas”. Produtores avisam: engana-se quem acha que é só chegar. A fase da informalidade acabou, segundo profissionais da área. “O mercado cresceu muito, a formação hoje é bem importante”, diz Caio Gullane, diretor da Gullane Filmes.
De olho nesse mercado de trabalho, Kamilla Bianca, 20, iniciou seus estudos com um curso técnico de operadora de câmera. Hoje está perto de concluir o primeiro estágio, vaga que conseguiu por meio de um programa de formação da Spcine, agência de cinema de São Paulo.
Ela conta que descobriu novas possibilidades de trabalho na área. “Estou aprendendo muito sobre produção executiva, área que não conhecia nada”. Animada, a jovem conta que vai investir na carreira. “Começo a faculdade esse ano.”
Qualificação em falta
O segmento audiovisual segue aquecido, mas produtoras de audiovisual reclamam de dificuldade para encontrar mão de obra qualificada e afirmam que falta gente preparada em quase todos os setores, do roteiro à produção executiva. “O mercado audiovisual carece de bons profissionais, quem se destaca está sempre disputado no setor”, diz Juliana Vicente, diretora e proprietária da produtora Preta Portê Filmes.
Dentro da produtora, Juliana conta que além de circularem pelas produções em funções diversas, os estagiários aprendem produção, mais especificamente em desenvolvimento de projeto. “É o que pode dar autonomia, mesmo que o seu objetivo final seja ser assistente de câmera ou diretor de fotografia”. Segundo ela, o momento é de equilibrar necessidade de trabalho imediato e desejos.
Para quem pretende entrar na área, é bom saber que a maior demanda por profissionais não está nas ocupações mais “glamourizadas”, como direção e roteiro. “As oportunidades em áreas técnicas são maiores”, afirma Juliana. Eletricistas, técnicos de som, editores, produtores-executivos, são especialistas que andam meio difíceis de serem encontrados.
Os cargos de assistente em produção, arte e edição são também vagas frequentemente oferecidas por pequenas e grandes produtoras, diz Célia Cavalheiro, coordenadora do bacharelado em Audiovisual do centro universitário Senac.
O crescimento da produção audiovisual impõe também mudanças nos cursos e em professores, que precisam se ajustar aos novos formatos e plataformas.
“Os alunos ingressam sabendo produzir vídeos, editar imagens e utilizarem equipamentos”, diz Luiz Fernando Tabet, coordenador dos cursos de audiovisual e produção multimídia do centro universitário Fiam-Faam. “Vivemos um momento de experimentação, as possibilidades se abrem a todo momento, exigindo do profissional da área e dos educadores um olhar atento e constante atualização.”