Um estudo publicado pela revista BioScience confirmou o que cientistas apontam há muito tempo: o mundo está passando por um estado de emergência climática. O relatório contém dados que foram reunidos durante 40 anos, a partir de pesquisas de cerca de 11 mil cientistas. São profissionais de 153 países, com gráficos que trazem indicadores desde a Primeira Conferência Mundial do Clima, em Genebra, em 1979.
No documento, eles afirmam que o «sofrimento humano incalculável» está se tornando inevitável. Sem mudanças nas atividades humanas que contribuem para a emissão de gases que elevam o efeito estufa, não será possível um planeta equilibrado.
«Mitigar e adaptar-se às mudanças climáticas, honrando a diversidade de seres humanos, implica grandes transformações nas formas como nossa sociedade global funciona e interage com os ecossistemas naturais», diz o texto. «Somos encorajados por uma recente onda de preocupação. Os órgãos governamentais estão fazendo declarações de emergência climática. Crianças em idade escolar estão em greve. Os processos de ecocídio estão em andamento nos tribunais. Os movimentos de cidadãos de base estão exigindo mudanças, e muitos países, estados e províncias, cidades e empresas. Como uma Aliança dos Cientistas do Mundo, estamos prontos para ajudar os tomadores de decisão em uma transição justa para um futuro sustentável e equitativo».
A partir de todos esses dados, os cientistas reuniram seis áreas que consideram cruciais para a humanidade tomar uma medida imediata, para diminuir os efeitos de um planeta que já está em aquecimento. Ela teriam um grande impacto na contenção dessa crise.
1. Fontes de energia
Os pesquisadores propõem que os governos de todo o mundo comecem a cobrar altos impostos sobre a emissão de carbono. A ideia é desestimular o uso de combustíveis fósseis (como petróleo) e eliminar os subsídios a empresas que lidam com esse tipo de combustível. Com isso, a sociedade se veria obrigada a substituir por fontes renováveis de baixo carbono e a deixar o restante dos combustíveis fósseis no solo.
2. Poluentes de vida média
Estes são aqueles poluentes que não ficam muito tempo na atmosfera, mas que mesmo assim causam grande impacto no efeito estufa. Dentre eles estão o metano, a fuligem e os hidrofluorcarbonetos (HFC), entre outros. Com a redução rápida desses gases, o aquecimento poderá ser reduzindo em mais de 50% nas próximas décadas – aumentando, inclusive as «colheitas, graças à redução da poluição do ar».
3. Conservação da natureza
Os cientistas reforçam a necessidade de ampliar as áreas de preservação e garantir a restauração de ecossistemas da Terra. «Plantas terrestes e marinhas, animais e micro-organismos têm papéis importantes no armazenamento do carbono», informa o documento. Florestas e fitoplânctons, por exemplo, são cruciais na absorção de CO2, um dos principais gases que aumentam o efeito estufa.
4. Produção de alimentos
Os vegetarianos têm razão: uma vida com menos produtos de origem animal é mais equilibrada. A redução de carne – especialmente a bovina – além de melhorar a saúde também tem potencial para reduzir os danos ao planeta. Isso porque, além de necessitar de áreas cada vez mais extensas para o pasto (o que colabora no aumento do desmatamento), esse tipo de animal também emite uma considerável quantidade de gás metano. Os pesquisadores ainda apontam para a necessidade de combate ao desperdício de comida e uma prática mais eficiente de cultivo e colheita das plantações.
5. Modelo econômico
Neste item, os cientistas tocam em uma velha ferida: até quando vamos consumir desenfreadamente? Cobrar que o consumidor esteja constantemente comprando faz com que o planeta seja explorado em um nível maior do que pode suportar. «Precisamos de uma economia livre de carbono e políticas públicas que guiem decisões econômicas nesse sentido», argumenta o estudo. «Nossa meta deve mudar de crescimento do PIB para a sustentabilidade de ecossistemas e a melhora do bem-estar humano, priorizando necessidades básicas e reduzindo a desigualdade.»
6. Crescimento da população
São 200 mil novas pessoas por dia – só com este número já dá para se ter uma ideia do problema. Os pesquisadores afirmam que é preciso políticas de planejamento familiar. «Há práticas comprovadas e eficientes que fortalecem os direitos humanos ao mesmo tempo em que reduzem taxas de fertilidade e reduzem os impactos do crescimento populacional nas emissões de gases-estufa e na perda de biodiversidade».