A denúncia do Ministério Público Federal à Justiça contra Marcelo Odebrecht e a cúpula da empreiteira, réus da Lava Jato desde o fim de julho, foi apresentada à imprensa em um hotel de Curitiba.
Os jornalistas se entreolharam confusos quando o procurador Deltan Dallagnol, que fazia uma explicação em slides, mostrou o extenso diagrama com o fluxo dos pagamentos que a construtora fez, fora do país, aos ex-dirigentes da Petrobras Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Pedro Barusco.
Era um emaranhado de setas que mostrava o dinheiro circulando por contas bancárias, registradas em países caribenhos como Ilhas Virgens e Antígua e Barbuda, até ser depositado em Mônaco ou na Suíça.
Além de Costa, Barusco e Duque, os ex-diretores da área internacional Nestor Cerveró e Jorge Zelada também já tiveram contas descobertas no exterior, usadas para receber repasses.
As trajetórias que o dinheiro fez para chegar lá envolvem mais de 20 países, sedes de off-shores (empresas registradas fora do país) ou de bancos onde os repasses passaram ou chegaram (veja mapa ao lado). Esse número considera apenas os pagamentos já denunciados formalmente, já que há vários outros em investigação. (Confira mapa no fim do texto)
Somando intervenções no Brasil e no exterior, os procuradores afirmam já terem recuperado R$ 870 milhões. Outros R$ 2,4 bilhões em bens foram bloqueados.
Quatro envolvidos foram descobertos com grandes somas fora do país: Duque e Zelada tinham juntos 30 milhões de euros (R$ 116,4 milhões no câmbio atual). Já Costa e Barusco acumulavam US$ 120 milhões (R$ 415 milhões).
O quinto “peixe grande” da Petrobras, Nestor Cerveró, tinha duas contas na Suíça, mas o saldo foi esvaziado durante a investigação. Ele foi condenado por corrupção na aquisição de dois navios-sonda, mas o MPF achou uma só transferência direta a ele no exterior, de US$ 75 mil. O restante estava em com o lobista Fernando “Baiano”, mas a Justiça concluiu que Cerveró era beneficiário direto.
Youssef também operava fora, mas propina voltava
O doleiro Alberto Youssef tinha contas no exterior em pelo menos seis países (Estados Unidos, Reino Unido, Panamá, Hong Kong, Cingapura e Suíça), mas sua relação com o dinheiro era diferente dos demais.
Apontado como principal operador de propinas da Lava Jato, Youssef fazia operações de câmbio para lavar o dinheiro e distribuí-lo em território nacional.
O principal método do doleiro era repassar valores em espécie, usando o serviço de entregadores ou fazendo o serviço ele próprio: no dia em que foi preso, em 17 de março de 2014, ele estava em um hotel no Maranhão entregando propina pela empreiteira UTC, segundo sua versão.
Youssef já deu duas estimativas diferentes, ambas imprecisas, para o quanto movimentou de dinheiro pelo Brasil e pelo mundo.
Em depoimento ao juiz Sérgio Moro no final de abril, ele calculou ter operado “em torno de R$ 150 milhões, R$ 180 milhões” no esquema. Na ocasião, ele disse que embolsou apenas R$ 8 milhões deste montante.
Semanas mais tarde, em maio, respondeu em uma sessão da CPI da Petrobras, em Curitiba, ter movimentado “R$ 180 milhões, R$ 200 milhões, até R$ 220 milhões”.