As escolas que forem desocupadas após a reorganização promovida pelo governo do Estado de São Paulo continuarão sendo usadas para fins educacionais, segundo o secretário estadual da Educação Herman Voorwald. Em entrevista à Rádio Bandeirantes nesta quarta-feira, ele disse que a pasta está negociando parcerias com o objetivo de implantar, por exemplo, cursos profissionalizantes nos prédios que ficarem ociosos. Outra meta é transformar os locais em centros de ensino para pessoas que não conseguiram concluir os estudos na idade adequada.
O secretário da Educação também destacou que todos os alunos afetados pela reorganização terão a rematrícula feita automaticamente para a escola mais próxima. De acordo com Herman Voorwald, os pais receberão uma carta com o endereço da nova unidade e poderão visitá-la no dia 14 de novembro.
Quem não aceitar a indicação e quiser tentar uma transferência tem que fazê-lo entre os dias de 18 a 25 de novembro.
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Estudantes que terão as escolas fechadas para a reorganização do ensino na rede estadual de São Paulo lamentam os prejuízos que poderão ser causados pela mudança. O fechamento de 94 escolas (25 na capital paulista), anunciado pelo governo estadual, afetará 311 mil alunos. O objetivo é separar as escolas por ciclos, entre anos iniciais e finais do ensino fundamental e do médio.
A Escola Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, no Alto de Pinheiros, zona oeste da cidade, está entre as que serão fechadas. A corretora de imóveis Tânia Bueno chorou ao falar sobre os problemas que a reorganização ocasionará na vida da filha Vitória, aluna da escola. “Estou muito triste, porque estamos em um país em que não se tem ensino, não se tem nada, e agora vão tirar o pouco que temos. Não dá para acreditar. Minha filha ficou muito chateada”, afirmou.
Tânia disse que a escola a ser fechada oferecia bom ensino e é bem localizada. Ela destacou que a filha teve, inclusive, oportunidade de estudar em escola particular, mas preferiu permanecer na atual.
O advogado Evandro José de Lima tem duas netas que estudam na mesma escola. Elas moram em um condomínio onde vivem 3 mil pessoas, a cerca de 50 metros da unidade de ensino. No condomínio, há muitas outras crianças matriculadas na Escola Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo. “É um absurdo, um país que está precisando de escola, de cultura e vão fechar escola?”, reclamou.
Lima calcula que a outra escola mais próxima fica a pelo menos 2 quilômetros da que será fechada. “É muito longe, tem o problema da condução, da mudança de amizades. Tem aquele núcleo se perde”, lamentou o advogado.
A Escola Estadual Miss Browne, na região de Perdizes, também fechará. Segundo a professora Helena Teixeira, que leciona língua portuguesa há 17 anos nesta unidade, muitos docentes temem não conseguir preencher o horário da jornada de trabalho nas novas escolas. Com a redução do número de aulas, alguns professores poderão ter de lecionar em várias unidades para permanecer com salário igual.
“Vai ter superlotação das salas. Fizeram essa bagunça para melhorar a qualidade de ensino, mas não é nada mais que uma falácia. Tudo isto veio de cima para baixo, da noite para o dia, sem consulta ao corpo docente, à comunidade e aos alunos. Este prejuízo, ou desgoverno, veio da noite para o dia, sem aviso prévio”, reclamou a professora.
A presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, Maria Izabel Azevedo Noronha, disse que o governo não poderá demitir professores efetivos, mas reduzirá custos diminuindo a jornada de trabalho. Em média, um professor com jornada de 40 horas semanais recebe R$ 2,4 mil por mês, valor que poderá cair para R$ 1,8 mil em caso de cortes na jornada, afirmou Maria Izabel. “Agora, pergunto: um professor consegue viver com um salário desses?”.
Para Izabel, o maior impacto para os alunos será a superlotação nas salas de aula. A sindicalista disse que é contra a separação dos ciclos por acreditar na importância da integração entre alunos de diferentes idades.
Na quinta-feira, cerca de 20 mil professores se reuniram na Avenida Paulista para protestar contra a reorganização escolar.
Segundo o secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, as mudanças são motivadas pela a queda de matrículas de novos alunos. Houve redução, entre 1998 e 2014, de 6 milhões para 3,8 milhões de estudantes. Além disto, um estudo mostrou que os alunos têm melhor desempenho nas unidades de ciclo único, disse ele.