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No espaço de sete anos, Brasil deve ter 43 mil jovens assassinados

Em sete anos, 43 mil adolescentes devem ser vítimas de homicídio no País. Por dia, a média deve ser de 16 assassinados (com idades de 12 a 18 anos) entre 2015 e 2021 se mantidos os atuais índices de violência. Homens, mostram as estatísticas, têm 13,5 mais risco de serem vítimas do que mulheres. O perigo para jovens negros é 2,8 vezes maior na comparação com brancos. O Nordeste é a região mais violenta para a faixa etária.

Isso é o que revela um levantamento feito pelo Unicef, braço das Nações Unidas para a infância, Secretaria dos Direitos Humanos, o Observatório das Favelas e o Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). A estimativa é baseada no Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), que cruza dados oficiais e considera mortes de jovens por homicídio em 300 municípios com população acima de 100 mil habitantes.

Em 2014, o IHA mostrava que, a cada mil adolescentes com 12 anos na época, 3,7 devem morrer por homicídio antes dos 19 anos. O índice é alto, diz o estudo, porque uma sociedade não violenta deve apresentar valores próximos a zero.

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O valor de 2014 é o maior da série desde o início do monitoramento, em 2005. O Nordeste apresentou os índices mais elevados: há três anos, a região perdeu 6,5 adolescentes para cada grupo de mil pessoas, o dobro da tendência nacional.

Em março, Gleicia Marques perdeu o filho caçula, de 18 anos, para a violência. Sem passagem pela polícia, Arthur foi executado com seis tiros de pistola, a 400 metros da casa da avó, em Fortaleza. «Olho para esta foto todos os dias, com sede de justiça», diz Gleicia, mostrando a fotografia do rapaz morto, todo ensanguentado, sobre uma calçada.

Na época, ele havia acabado de passar em uma entrevista de emprego. «Tinha planos de comprar uma moto e estava feliz. Era um jovem comum», conta a mãe. Mais de seis meses após o crime, os motivos e o autor são desconhecidos.

O titular da Secretaria de Segurança e Defesa Social do Ceará, delegado André Costa, reconhece o recrudescimento na violência, com grande parte de óbitos ligados à disputa de facções e ao tráfico de drogas. Ele também cobra mais apoio da União. Procurado para comentar a pesquisa, o Ministério da Justiça não se manifestou.

Das dez capitais mais violentas para adolescentes, o Nordeste concentra sete. Fortaleza lidera – com 10,94 adolescentes assassinados a cada mil. Planos assistenciais federais, como o Bolsa Família, e a melhoria de indicadores sociais e de renda na região nos últimos anos não foram suficientes para controlar os homicídios no Nordeste.

Para Ignácio Cano, um dos autores do estudo e professor da Uerj, uma das explicações é que o crescimento demográfico e econômico pode ter vindo junto de aumento das atividades criminosas. «O índice é elevado justamente na região onde os programas de transferência de renda foram mais fortes, mas é preciso considerar que a melhoria de condições de vida têm impacto em médio e longo prazo, e não de forma imediata», diz.

No País, a pequena cidade de Serra, na Grande Vitória, tem a maior taxa de adolescentes mortos: 12,74 por mil. Grande parte tem origem no tráfico. Durante a paralisação de policiais militares em fevereiro, Serra foi o município capixaba que registrou maior número de homicídios (incluindo adultos).

«Acreditamos que a evasão escolar é um dos principais fatores que levam esses adolescentes a ingressarem no mundo do crime. Estamos empenhados em colocar cada vez mais jovens nas escolas», afirma o secretário de Direitos Humanos capixaba, Júlio Pompeu.

Perfil. «Cruzando os dados com outras pesquisas, as vítimas são os jovens do sexo masculino, negros, de baixa escolaridade e moradores da periferia», afirma Cano. E homicídios por armas de fogo são 6,1 mais prováveis do que por todos os outros meios juntos.

Para Luciana Brilhante, coordenadora do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente, uma organização sem fins lucrativos que atua no setor, tem havido inversão de prioridades, com ausência de investimento em políticas públicas para jovens. «E também houve recrudescimento penal, com mais encarceramento e policiamento, que não traz retornos efetivos», critica.

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