O programa “Fantástico”, da TV Globo, exibiu neste domingo (17) uma série de depoimentos de pacientes atendidas pelo anestesista Giovanni Quintella Bezerra, que foi preso em flagrante por estuprar uma gestante durante uma cesárea, no Rio de Janeiro. Uma das vítimas relatou para a mãe, ao chegar no quarto, que estava “com um gosto muito ruim na boca”.
Outra mulher, que passou pela terceira cesariana, relatou que naquela ocasião recebeu uma sedação muito maior do que antes. “Eu já não estava conseguindo falar mais, porque assim que ele saiu, eu já fui ficando mais mole, mais sedada. Aí ele falou que ia me dar uma anestesia geral. Tomei e não consegui mais lembrar de nada. Apaguei”, disse a mulher, que procurou a Delegacia da Mulher após ver as notícias sobre o caso.
A delegada Bárbara Lomba, responsável pelas investigações, destacou que as vítimas que estão sendo ouvidas ficam revoltadas com a situação. “O agente se aproveita da vulnerabilidade da vítima. Esse estado de vulnerabilidade, nesse caso, é a sedação. Ela estava desacordada”, destacou.
Até agora, pelo menos seis denúncias contra o médico são investigadas. Mas a polícia quer apurar a conduta do anestesista em pelo menos mais 40 partos que ele participou.
A corporação já colheu o depoimento de enfermeiras que atuaram nos partos com Bezerra. Uma delas disse que chegou a questionar o médico sobre a quantidade de anestesia que tinha sido administrada a uma gestante e ouviu dele: ”Por quê? Você também quer?”.
Outra enfermeira disse à Polícia Civil que viu o anestesista em pé perto da cabeça da vítima com o pênis ereto. Ao perceber que estava sendo visto, na mesma hora ele fechou o capote.
Após suspeitar das atitudes dele nesses dois partos, a equipe do plantão de enfermagem se organizou para descobrir exatamente o que estava acontecendo e produzir provas.
O flagrante
O vídeo que mostra o médico estuprando a paciente, que foi usado para a prisão dele em flagrante, tem uma hora e meia de duração. O material só foi visto pelos enfermeiros quando terminou a cirurgia.
Segundo a Polícia Civil, o crime aconteceu já no fim da cesárea, quando o acompanhante da vítima já estava fora da sala de parto e a equipe médica ocupada com os procedimentos finais.
Entenda o caso
O anestesista foi flagrado no vídeo abusando sexualmente de uma paciente, dopada, enquanto ela passava por uma cesárea no Hospital da Mulher em Vilar dos Teles, São João Meriti, na Baixada Fluminense.
Funcionárias do hospital desconfiaram do comportamento do anestesista e da quantidade de sedativo que ele costumava aplicar durante os partos, maior do que o comum.
Elas conseguiram, então, gravar o vídeo em que o rapaz aparece tirando o pênis para fora da calça e colocando na boca da paciente.
O vídeo foi repassado à polícia, e o anestesista foi preso em flagrante no último dia 10. Ele foi indiciado por estupro de vulnerável, cuja pena varia de oito a 15 anos de prisão.
Apuração do Conselho de Medicina
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), Clóvis Munhoz, disse em entrevista ao jornal “O Globo” que acredita que o órgão consiga diminuir pela metade o tempo dos ritos do processo de sindicância aberto contra o anestesista. Com isso, o prazo regulamentar, de até 180 dias, pode cair para 90.
Por enquanto, ainda está correndo o prazo de 15 dias para que o médico se manifeste. Ele recebeu o documento na última sexta-feira (15), em mãos, no presídio Pedrolino Werling de Oliveira, conhecido como Bangu 8, no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, onde está preso.
“Expirados esses 15 dias será apurada uma sindicância de urgência extraordinária, onde será votada, e com certeza absoluta, aprovada, a interdição cautelar, aí cai a suspensão provisória e entra o afastamento cautelar e, concomitante abertura de processo ético-profissional. Com isso não estamos economizando e acelerando o máximo que a lei nos permite, que foi a promessa que eu fiz em nome da presidência do Cremerj, da diretoria e dos conselheiros. Usarmos todas as prerrogativas dentro da lei que nos permite julgar, chegar com esse processo à condição de julgamento o mais rápido possível”, disse Munhoz.