A jovem Manuela Vitória de Araújo Farias, de 19 anos, que escapou da pena de morte ao ser julgada por tráfico internacional de drogas, na Indonésia, tem uma rotina de estudos enquanto segue presa. Ela foi condenada a 11 anos de prisão, mais o pagamento de 1 bilhão de rúpias indonésias, o equivalente a cerca de R$ 300 mil, o que foi considerado “um milagre” por sua defesa, já que em casos semelhantes as penas costumam ser mais severas.
De acordo com o advogado Davi Lira da Silva, que defende a brasileira, a jovem está “triste com a condenação”, mas ao mesmo tempo “aliviada” por ter escapado da pena de morte. Em entrevista ao jornal “O Globo”, o defensor disse que acredita que em oito anos ela deve conseguir retornar ao Brasil.
Enquanto isso, ela segue fazendo aulas de inglês e de bahasa (idioma da Indonésia) em um presídio feminino em Bali. No entanto, para se alimentar e ter acesso a roupas, ela precisa pagar taxas na cadeia.
“A família está depositando dinheiro. Nessa prisão ao menos há mais estrutura, pode pegar sol, tem interação social. A família continua com a vaquinha, tentando arrecadar fundos, mas a priori é celebrar que ela praticamente nasceu de novo”, destacou o defensor.
Usada como “mula”
O advogado explicou que a jovem escapou da pena de morte depois que a defesa conseguiu provar que ela foi enganada e usada como “mula” por criminosos.
Ainda ao “O Globo”, ele disse que a jovem foi aliciada por uma organização criminosa de Santa Catarina, que ofereceu aulas se surfe e uma passagem gratuita para a Indonésia. Para isso, Manuela teria que levar uma encomenda, mas o conteúdo dos pacotes não foi revelado.
A brasileira teria contado aos parentes sobre a viagem, quando foi convencida a desistir. No entanto, quando disse aos criminosos que não iria mais, passou a ser cobrada pelo valor de R$ 25 mil, que seriam os custos gastos e que deveriam ser ressarcidos. Sem dinheiro para quitar a “dívida”, ela acabou embarcando levando os entorpecentes.
“Desde o início a gente esperava conseguir fazer história. Tínhamos provas de que a participação dela foi menor, não foi ela que preparou as malas. Mostramos que ela não tinha o chamado domínio do fato, que não era traficante e que inclusive tentou desistir da viagem, mas foi forçada a ir. Ela não era traficante, talvez fosse mais vítima do que partícipe”, disse Silva.
O advogado disse que entregou para as autoridades indonésias conteúdos e senhas do celular da jovem. “Colaboramos desde o início. A decisão é histórica, e representa uma mudança de paradigma da Indonésia, em reconhecer os direitos humanos. No passado recente, muitos brasileiros usados como mula foram mortos”, destacou.
Jovem comemorou sentença
Uma postagem compartilhada nos stories da página que arrecada fundos para ajudá-la trouxe uma mensagem atribuída à brasileira.
“Entrei pelo celular do advogado. Obrigada Deus por tudo. Tu sabes o que é melhor para mim. A todos que desejaram meu bem e oraram a meu respeito, sempre soube que ia dar tudo certo, pois meu Deus é quem luta por mim! Gratidão. Nunca esquecerei quem não me abandonou. Amo vocês”, dizia o texto.
Relembre o caso
Manuela, que trabalhava como vendedora de roupas e perfumes em Santa Catarina, disse aos familiares que iria passar o Réveillon em Bali com um namorado que reside em Portugal, mas chegou sozinha à Indonésia.
Ela embarcou em Florianópolis no fim do ano passado e foi detida ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Bali, quando o raio-x detectou 3 quilos de drogas escondidos entre as roupas nas em duas bolsas Louis Vuitton.
A jovem foi indiciada por tráfico internacional de drogas e, em abril passado, começou a ser julgada. Em casos semelhantes, a Justiça indonésia costuma condenar os réus a pena de morte ou prisão perpétua.
Mas o Ministério Público da Indonésia havia pedido que Manuela fosse condenada a 12 anos de prisão. No entanto, o juiz que analisou o caso a condenou a 11 anos de prisão, mais o pagamento de 1 bilhão de rúpias indonésias.
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