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Caso Marielle: Entenda como nome de Bolsonaro foi parar nas investigações do assassinato

Reportagem aponta que suspeito de matar Marielle visitou atirador vizinho de Bolsonaro, mas afirmou na portaria que iria na casa do atual presidente.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou na noite desta terça-feira, 29, em transmissão ao vivo pelo Facebook, que não deve nada a ninguém e que «não tinha motivo nenhum para matar quem quer que seja no Rio de Janeiro». Bolsonaro usou a live para responder à reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo, veiculada pouco antes, que afirmou que um suspeito da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) visitou o condomínio onde ele mora no Rio no dia do crime.

Segundo a apuração da emissora, registros da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, no Rio, onde mora o presidente Jair Bolsonaro, apontam que Élcio de Queiroz entrou no local no dia do assassinato, em 14 de março de 2018, dizendo que iria para a casa do então deputado federal. Os registros de presença da Câmara dos Deputados, no entanto, mostram que Bolsonaro estava em Brasília e que postou vídeos no Legislativo no mesmo dia.

Como houve citação ao nome do presidente, a lei obriga o Supremo Tribunal Federal (STF) a analisar a situação, afirma a reportagem do Jornal Nacional. No mesmo condomínio, mora o principal suspeito de matar Marielle, Ronnie Lessa. De acordo com a reportagem, no dia do crime, o porteiro escreveu às 17h10 o nome do suposto visitante, Élcio, os dados do automóvel que ele dirigia – um Logan, placa AGH-8202 – e a residência para a qual ele iria, a de número 58.

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Élcio é apontado pela polícia como o motorista do carro usado no crime. A casa 58 do condomínio consta como sendo a de Bolsonaro no registro geral de imóveis. O presidente também é proprietário da casa 36, onde mora um dos filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL).

Segundo a reportagem, o porteiro contou à polícia que depois que Élcio se identificou, interfonou para casa 58 para confirmar se o visitante tinha autorização para entrar e que identificou a voz de quem atendeu como sendo a do «seu Jair».

Segundo o teor das declarações do porteiro à polícia apuradas pela reportagem, ele acompanhou a movimentação do carro de Élcio após a entrada e notou que o visitante se dirigiu à casa 66 – e não à 58 – do condomínio, onde morava Ronnie Lessa, apontado pelo Ministério Público e polícia como autor dos disparos contra Marielle. «Fontes disseram à equipe de reportagem que os dois criminosos saíram do condomínio dentro do carro de Ronnie Lessa, minutos depois da chegada de Élcio, e embarcaram no carro usado no crime nas proximidades do condomínio», diz a reportagem da Globo.

Segundo o JN, a polícia tenta recuperar arquivos de áudio da guarita do condomínio, cujo interfone é monitorado, para saber com quem, de fato, o porteiro conversou naquele dia e quem estava na casa 58.

Com a citação pelo porteiro do nome do presidente, representantes do Ministério Público do Rio foram a Brasília no último dia 17 para fazer consulta ao presidente do STF, Dias Toffoli. Eles questionaram se podem continuar com investigações, uma vez que o nome de Bolsonaro foi mencionado. Toffoli ainda não respondeu.

O advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, contestou o depoimento. Ele ressaltou que o presidente estava em Brasília no dia do assassinato de Marielle e disse que o depoimento do porteiro é uma «mentira», feita para atacar a imagem e a reputação do presidente. «Afirmo com absoluta certeza que é uma mentira, fraude, farsa para atacar imagem e reputação do presidente», disse Wassef ao JN. «O presidente não conhece o Élcio.»

«Talvez, esse indivíduo tenha ido à casa de outra pessoa e, alguém, com intuito de incriminar o presidente, conseguiu um depoimento falso onde essa pessoa afirma que falou com Jair», declarou o advogado à Globo.

Bolsonaro responde em live

Bolsonaro disse que estava na Câmara no dia em que o suspeito foi ao condomínio, informação também divulgada pela reportagem do Jornal Nacional. «Nós vamos resistir, a verdade está ao meu lado», afirmou o presidente.

Ainda na live, realizada em Riad, na Arábia Saudita, onde está em viagem oficial, Bolsonaro atacou o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC). O presidente acusou o antigo aliado de ter vazado o inquérito sobre Marielle, que «está em segredo de Justiça». Bolsonaro acusou o governador do Rio de querer «destruir» a sua família para «chegar à Presidência da República». «Por que essa sede pelo poder, senhor governador Witzel?», questionou.

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O governador do Rio negou que tenha interferido nas investigações sobre o assassinato da vereadora ou vazado detalhes do inquérito à imprensa. Pelo Twitter, Witzel afirmou que em seu governo, «as instituições funcionam plenamente e o respeito à lei rege todas as nossas ações». Witzel disse que a manifestação de Bolsonaro foi «intempestiva».

Durante toda a transmissão, realizada durante a madrugada saudita, Bolsonaro mostrou-se bastante irritado, falou em tom exaltado e conteve o choro ao menos uma vez. Ele disse estar à disposição para falar com a polícia na investigação sobre a morte de Marielle. «Eu gostaria muito de falar neste processo, conversar com esse delegado», disse. Bolsonaro afirmou que, «pelo que tudo indica», o processo sobre a morte de Marielle está «bichado» e pediu ao Conselho Nacional do Ministério Público que «supervisione o processo».

O presidente também relatou que seus filhos estão sofrendo por causa de investigações. «Vocês não têm como me pegar e ficam inventando patifaria», reagiu, enfático. «Eu seguro a onda, tenho uma tremenda responsabilidade», disse. Bolsonaro declarou que trabalha para o bem do País: «Se o Brasil der errado, todo mundo vai para o espaço».

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Durante a transmissão, Bolsonaro afirmou que não irá «perseguir» a Rede Globo no processo de renovação da concessão da TV, em 2022. No entanto, disse que o processo tem de «estar limpo». «Se não estiver limpo, legal, não tem renovação da concessão de vocês (Globo) e de TV nenhuma», disse.

Em resposta aos ataques, a Rede Globo afirmou que «não faz patifaria nem canalhice», mas «jornalismo com seriedade e responsabilidade». «A Globo lamenta que o presidente revele não conhecer a missão do jornalismo de qualidade e use termos injustos para insultar aqueles que não fazem outra coisa senão informar com precisão o público brasileiro», diz o comunicado da emissora

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